sexta-feira, 23 de julho de 2010

21/07/2010 – Nossos espetáculos eram coadjuvantes









Dionízio do Apodi

É final de projeto! Um misto de satisfação e saudade se apodera de mim. Foi ótimo finalizar em Sapé (Paraíba), com A Peleja do Amor no Coração de Severino de ´Sapé´ (assim fizemos, porque a cidade merece). Sapé nos mostrou como uma cidade se mobiliza por completo em prol de um espetáculo de teatro. Foi lindo! Lindo mesmo! Indescritível! Inenarrável! Só estando lá para ver.
A começar pela parceria que fizemos com a Prefeitura Municipal de Sapé, que nos deu mostras de respeito ao nosso trabalho. Acredito que todas as secretarias estavam dispostas a ajudar no que fosse preciso. O coordenador de cultura, Josas, foi brilhante. O prefeito da cidade é jovem, e acho que é por isso que é diferente estar ali. Lembrei mais uma vez da minha terra Apodi. Passamos três meses por lá, fazendo um trabalho, que duvido saia da cabeça das pessoas, e não tivemos em um só momento um representante do poder público para ver o que estava acontecendo. Infelizmente Apodi ainda vai demorar muito a sair deste ostracismo cultural.
Hoje pela manhã Josas nos levou ao Memorial Augusto dos Anjos, onde fomos muito bem recebidos pela simpática coordenadora Nadja, e pelo não menos simpático e bravo, Paulinho da Usina. Tivemos uma aula sobre Augusto dos Anjos. Deu uma enorme vontade de vivê-lo, fazer algo sobre ele, um espetáculo, com meu mestre João Marcelino dirigindo (sonho o tempo inteiro com este encontro – como uma noiva espera o seu casamento). Palavras ecoaram forte no meu coração, e acredito que no momento certo retornaremos a Sapé (e também no momento certo encontrarei João Marcelino).
Visitamos também o tamarindo onde Augusto dos Anjos, por muitas vezes escrevia seus versos, pensava na vida, e chorava. Me emocionei. Mas afastei-me para que ninguém me surpreendesse daquela forma. O momento era meu, sozinho. Digo isso pelo meu estado de espírito, pelas minhas buscas individuais, meus sonhos, que há algum tempo tenho pensado muito.
Ah, não posso esquecer de mencionar Cássio, valente, desastrado e doce cavalheiro tosco, mossoroense da Baixinha, de onde temos a nossa sede, que nos acompanhou durante todo o projeto, ajudando no que fosse preciso. Saimos do Memorial Augusto dos Anjos e fomos para a casa que possivelmente tenha sido a de Augusto dos Anjos. Nadja nos explicava que a casa era tombada, quando de repente Cássio se mete, com sua voz delicada que faz surdo ouvir, e diz apontando para uns tijolos caídos no chão, “tombou aqui, foi?”
A tarde se mostrou maravilhosa, e assim montamos toda a estrutura para o espetáculo, mais uma vez, na Praça João pessoa. Fomos para o hotel, e ao retornar, já preparados, dentro da van, ao se aproximar da praça, as primeiras palavras nossas ao avistar a multidão eram: meu Deus! Quanta gente! Vixe!
Ao chegarmos, ficamos atrás do cenário, nas nossas coxias, e ouvimos a banda de música municipal tocando. Em seguida Zelito Coringa cantou, e ainda convidou uma poetisa sapeense para dizer uns versos para a plateia. Ao final do show de Zelito, que foi bastante aplaudido, Zelito pediu licença ao povo de Sapé para cantar uma música que seria dedicada para Dionízio do Apodi, diretor d´O Pessoal do Tarará. “Dionízio essa é para você”. E cantou: “Apodi, Apodi, terra dos meus ancestrais
Apodi, Apodi, com suas belezas naturais...”
No refrão da canção, Zelito ensinou o povo a cantar “Tarará, tarara, Tarará, tarara...”
Aí foi muito para o meu pobre coração. Muito obrigado Zelito, grande parceiro, amigo. Obrigado por tudo. Valeu mesmo. Noite brilhante!
Nunca tivemos tanta gente próxima ao palco d´A Peleja, nas laterais, e até assistindo o que acontecia na nossa coxia. Emoção indescritível! O show foi de Sapé, e nosso espetáculo um aguerrido coadjuvante.

“No tempo de meu pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria eternidade
A minha sombra há de ficar aqui.”
(Debaixo do Tamarindo – Augusto dos Anjos)


Família Rodovia Nordeste de Teatro: Alex Peteka, Amelie, Antônio Marcos, Camila Paula, Cássio Zuada, Deassis das Cantiga, Deyse Negreiros, Diego Ventura, Dionízio do Apodi, Jamille Ruana, Joelson Lost, Ludmila Albuquerque, Madson Ney, Maxson Ariton, Rosi Reis, Wellington Banana e Zelito Coringa.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

20/07/2010 – Sapé é um arco-íris













Dionízio do Apodi

Hoje lembrei de Caxias (cidade do Maranhão) como se lembra da namorada quando estamos longe. Eu explico: Caxias foi uma cidade que nos recebeu com banda de música, e é terra do poeta Gonçalves Dias. Agora estamos em Sapé (na Paraíba), terra do poeta Augusto dos Anjos, e que também nos recebeu com banda de música. Quando digo isso não estou fazendo metáfora. Estou dizendo realmente, que fomos recebidos com banda de música.
Que bom ser bem recebido. Fizemos muitos amigos durante este projeto, e aqui, no primeiro dia, já percebemos que estamos em casa. O povo de Sapé é muito simpático. O tempo inteiro busca saber se estamos precisando de algo, dá bom dia, boa tarde, boa noite, sorriso sempre aberto. Ah, meu Deus! Lembrei agora da minha terra Apodi, também. Lá é desse jeito. A diferença é que lá o calor é insuportável, e aqui faz frio.
Depois que a Banda Filarmônica Santa Cecília tocou, abrindo o nosso projeto aqui, foi a vez de Zelito Coringa subir ao palco e fazer a sua apresentação. Foi bastante aplaudido, principalmente na hora em que recitou Os Animais têm razão, de nosso poeta maior de Mossoró, Antônio Francisco. Outra pessoa que é bastante procurada por aqui é Genildo Costa, companheiro nosso que é de Grossos, mas mora em Mossoró. É que onde estamos, seja lá onde for, antes da programação começar, colocamos o seu cd Cores e Caminhos. Impressionante o número de pessoas que nos procuram querendo comprar o cd de Genildo. Nossa arte potiguar é forte, e nossa caminhada prova isso.
Depois de Zelito começamos O Inspetor Geraldo. Sobre o espetáculo só quero dizer que foi bom, porque o mais importante foi a multidão presente na Praça João Pessoa, atenta ao espetáculo. A repercussão sobre o projeto foi de imediato, com o público procurando os atores, Zelito, e até Antônio Francisco e Genildo Costa.
Conheci um camarada, não lembro o nome dele, que faz estampas em camisa, e agora voltou para Sapé depois de ter vivido muitos anos fora. Pessoa muito simpática, jovem de mais de cinquenta anos, e que passa boa energia, bons pensamentos, generosidade. Não posso deixar de falar no Josas e sua equipe que nos recebem maravilhosamente.
Ah, o hotel onde estamos é muito bonito. Diferente de tudo por onde já passamos. É simples, não tem luxo, mas é um aconchego. O nome é Vila Arco-Íris, com um monte de casinhas construídas, que são onde os hóspedes ficam. Gostei de Sapé. Me fez esquecer que estou desde o dia 30 de junho longe de Mossoró.

19/07/2010 – A generosidade vence o egocentrismo



Dionízio do Apodi

Impressionante é como as pessoas de teatro põem desculpas para não assistir aos espetáculos dos outros. Em João Pessoa nos deparamos com várias situações dessas, e a principal desculpa era de que não sabia porque não estava sendo divulgado. Ora bolas, tivemos espaços consideráveis, e de capa, em vários jornais da cidade, spots em rádios, panfletagem pela cidade, e-mails. Neste caso não sei o que fazer para dizer a tais criaturas que houve divulgação, sim. O que acontece é que o povo de teatro é acomodado, e que as desculpas são sempre as mesmas. Sentimos falta de alguns artistas e grupos em nossa plateia. Mas tudo bem, os eventos de rua tiveram uma participação popular muito grande.
Hoje revemos nossos companheiros do grupo Máscara, de Mossoró: Jeyson, Luciana, Tony e Damásio. Junto com eles veio um motorista que é meu amigo de infância, o Ramon Ramirez, que também tem família de Apodi. Foi ótimo vê-los em João Pessoa. Encerramos hoje a nossa passagem por aqui, e amanhã é o Máscara que faz apresentações. Seria bom que Mossoró soubesse desse momento. Fiquei muito feliz pelo encontro, e de saber que o teatro de Mossoró está solto pelo país.
Na plateia hoje não tivemos um grande público, como foram os últimos dois dias. Principalmente porque O Pulo do Gato é um espetáculo que pede um público bem menor. Fizemos o espetáculo no Teatro Lima Penante.
Ao contrário das últimas apresentações que fizemos, onde não gostei, hoje os atores davam gosto de ver. Foi maravilhoso. Os caras atuaram como gente grande, e há muito eu não via uma apresentação deste espetáculo com tanta vibração, energia, e ao mesmo tempo técnica. Digo que sou o maior termômetro deste espetáculo, porque além de ter dirigido, concebido junto com o elenco, vi muitos ensaios e todas as apresentações até aqui. Então, no dia em que me envolvo é porque o negócio foi bom mesmo. E a reação da plateia mostrava isso, também. A plateia vibrava, com exceção de um grupo de teatro que apareceu para assistir, e percebia-se que todos estavam armados, inclusive o seu diretor. Não quiseram colaborar com a produção e passar para as cadeiras da frente, com o objetivo de juntar mais o público (foram os únicos que não fizeram isso), e permaneceram o espetáculo como juízes. No meio do espetáculo o celular do diretor toca, ele se afasta, atende, conversa, e depois volta. Logo após, cada um dos integrantes do grupo vai saindo. Só eles. O diretor fica.
Quero narrar este episódio para entender o porquê, e ajudar a refletir com os outros, porque ainda existe este comportamento em nosso teatro e principalmente com artistas. Após a apresentação, fizemos o debate, como geralmente fazemos depois d´O Pulo do Gato. Foi uma bela troca respeitosa, entre nós e plateia, sobre o espetáculo, até a hora em que o diretor pegou a fala. Engraçado que o cara antes de falar qualquer coisa sobre o espetáculo ´leu um jornal´ sobre o que já fez no teatro, com quem trabalhou, os trinta e tantos anos de estrada, e falou: “isso tudo é para que vocês saibam quem eu sou”. Meu Deus do céu, ainda existe isso? Mas vamos para a frente porque não compensa ficarmos neste ponto.
Foi ótimo rever um casal que acompanhou todas as nossas apresentações em João Pessoa. Generosidade, é essa palavra que o casal teve conosco, ao rodar cada local de João Pessoa nos assistindo. E é sobre generosidade que eu quero encerrar este diário. A generosidade é o respeito que devemos ter um pelo outro. É assim que devemos olhar para as pessoas, com olhos generosos. Nosso mundo hoje vive uma ´guerra´ de consumismos, individualismos, egocentrismos, e tantos ismos, e por isso precisamos de um olhar diferente para com o próximos. E isso não é balela, não é conversa furada. Generosidade! Generosidade! Generosidade!

terça-feira, 20 de julho de 2010

18/07/2010 - Uma noite para esquecer





Maxson Ariton


Hoje o dia começou bem! Tomei um café da manhã muito bom e voltei ao quarto para descansar: perfeito. Não fui almoçar para ter mais tempo de descanso, descansei bastante e me preparei para o espetáculo.

Partimos às 13h para o local do espetáculo, que não foi a mesma praça do espetáculo O Inspetor Geraldo. Foi outra praça de frente para um Shopping Center. Montamos tudo numa correria, para lá na frente termos tempo de nos preparar para o espetáculo. Só não contávamos com um vento insuportável que nos atrapalhou bastante e também nos fez atrasar a montagem.

Já com a passagem de som atrasada e a montagem do cenário também, tínhamos que correr para ver se terminávamos tudo a tempo de nos preparar para A Peleja. Mais um contratempo: foi Zelito que desapareceu na hora da passagem de som, atrasando mais ainda o que já estava atrasado.

Depois da passagem de som saímos correndo pro hotel, e por incrível que pareça chegamos no horário que tínhamos marcado chegar. Portanto tínhamos duas horas de preparação. Chegamos no hotel na hora prevista e também saimos na hora prevista, para uma noite inesquecível .

Chegamos na praça e o anfiteatro já estava lotado. Muita gente que assistiu O Inspetor Geraldo estava na praça. O espetáculo da noite começou com Zelito, e percebi pelas palmas das pessoas, que elas estavam afim de assistir ao espetáculo. Zelito tocou umas quatro músicas e logo em seguida assumimos a dianteira da noite. O espetáculo começou e não se conseguia ouvir o violão de Antônio Marcos. Pensei ser o retorno e não me preocupei. Quando entrei em cena, aí sim me preocupei. Não ouvia nada do que eu falava e comecei a escutar ruídos e microfonias. Mas para mais desgosto meu, isso não foi só comigo. Foi com todo o elenco. Esse problema durou o espetáculo todo. Os atores começaram a errar nos instrumentos. A noite que parecia, e que se insinuava, ser maravilhosa, começou a dar ares de ruim. Pra completar, meninos e mais meninos fazendo barulho. Pronto: noite “maravilhosa”!

Quando o espetáculo terminou percebi no rosto do elenco uma tristeza e um abatimento por não termos feito um grande espetáculo. É ruim quando você se prepara para algo e esse algo não vem ou é interrompido por falhas técnicas, e até mesmo falhas humanas, falha dos atores.

Pensei, logo depois do espetáculo, um título para este diário: Uma noite para esquecer.

17/07/2010 - Tempo?




Maxson Ariton


O dia hoje começou, e nem vi, tão grande era o sono e o cansaço desses últimos dias. Partimos direto para João Pessoa: duas horas e meia de viagem, duas horas e meia de sono interrompido apenas pelo calor do carro, quando paramos por cinquenta minutos em engarrafamento no meio do caminho, por conta de um acidente entre duas carretas.

Quando chegamos na cidade fomos direto para o almoço. Almoçamos à beira mar, um cardápio muito bom. Parece que a produção local fez o dever de casa. Em seguida partimos direto para o hotel, que equivale ao almoço, também. Um hotel muito bom, de boa qualidade. Realmente a produção local fez direitinho o seu dever de casa.

Chegamos na praça onde seria A Peleja bem cedo, para dar tempo montar todo o material. São Pedro parecia que iria ajudar. Já o horário não! O espetáculo estava marcado para às 19h, e o tempo para a montagem de toda a estrutura de som, luz e palco d´A Peleja já estava bem adiantado. Então decidimos apresentar O Inspetor ao invés d´A Peleja, já que O Inspetor tem um tempo de montagem menor.

Decidido que iria ser O Inspetor o espetáculo da noite, começamos a montar a estrutura, e em poucos momentos tudo estava montado. Então partimos para a passagem de som, passamos e já fomos pro hotel nos preparar. Geralmente temos duas horas de preparação. Como o espetáculo estava marcado para às 19h, e não às 20h como de costume, tínhamos menos uma hora de preparação. O hotel fica um pouco distante do local da apresentação . Meia hora da praça para o hotel, e mais meia hora do hotel pra praça, ou seja, chegamos em cima da hora, e poucas pessoas estavam esperando o inicio do espetáculo.

Zelito abriu a noite com suas músicas e poesias de Antônio Francisco. As pessoas começaram a se aproximar, e quando dei por vista o anfiteatro estava tomado por completo. Quando Zelito encerrou, partimos para o espaço e arrumamos o material cênico.

O espetáculo começou e meu corpo não percebeu. Eu estava pregado ao chão, estava frio, sem vibração, e não conseguia de forma alguma vencer esse não-aquecimento. Percebi que não era o único com esse problema. Parecia-me que todos estavam muito relaxados, no mau sentido, para a cena. Isso decorreu até o fim do espetáculo deixando-me insatisfeito com o resultado que obtivemos nessa noite. Não gostei do espetáculo, achei muito fraco para o tempo de trabalho e estudos que temos. Acho que já fizemos espetáculos bem superiores.

Fechamos a noite arrumando o material e lanchando na mesma praça onde ocorreu o espetáculo. Sentados todos na mesa, cada qual com seu assunto: mulheres, futebol, dinheiro, saudades, futuro, teatro, e pensamentos soltos.

sábado, 17 de julho de 2010

16/07/2010 - Correndo da Chuva





Maxson Ariton


O dia de hoje foi mais um que, infelizmente, acordei cedo. No entanto foi para uma boa causa: fomos conhecer a parte histórica de Igarassu, e tivemos uma verdadeira aula com o nosso guia, que vou cometer aqui uma injustiça por não lembrar-lhe o nome, mas acho que é Inaldo. Sei que ele é o chefe dos guias, e fico muito grato pela aula que recebemos hoje. Vimos imagens, pinturas, telhados, arquiteturas do século XIX, século XVIII, XVII, XI, e até do século XV nós vimos coisas hoje. Foi uma manhã de sabedoria e conhecimentos.

Logo depois veio o almoço, e em seguida tivemos um tempinho para um descanso. Às três horas da tarde partimos para o local da apresentação: o pátio do centro de cultura daqui de Igarassu. Começos a descarregar o material, e hoje sem muita pressa pois como era O Inspetor Geraldo, tínhamos bastante tempo para a montagem da luz e do som, que no Inspetor são mais simples e mais rápidos do que n´A Peleja.

Tudo seguia na mais perfeita ordem: montamos a luz, montamos o som, montamos o palquinho pra Zelito. Então ficamos ali sentados esperado o moço que iria fazer uma ligação no poste, para finalmente termos energia para ligarmos os equipamentos.

Por volta de cinco e meia estava tudo certo com a energia e já podíamos testar os microfones. Menos mal. Só assim poderíamos fazer um bom alongamento e um bom aquecimento. A noite prometia ser maravilhosa. Depois dos testes fomos nos preparar para o espetáculo e o primeiro susto foi que a água estava acabando e precisávamos tomar banhos usando pouca água. Banhos breves.

Quando começamos a nos maquiar, o segundo e fatal susto: escutei um barulho de chuva, e de repente um toró começou a cair e os meninos que estavam lá fora correram para cobrir todo o material. Tínhamos, lá fundo, a pouca esperança que essa chuva fosse passageira, e foi. Ficamos felizes, só por alguns minutos. Pois a chuva voltou, e como diz o rei: “agora, pra ficar”. E como ontem, tivemos que desmontar tudo e montar novamente dentro do centro de cultura.

Na maior correria, montamos a luz e infelizmente não dava mais tempo de montarmos o som pra Zelito tocar. E como era num galpão, fechado, decidimos por não usar microfone. Conseguimos montar tudo dentro do centro de cultura em menos de meia hora. O centro de cultura lotou, felizmente deu mais público do que no dia anterior, mas de contrapartida, infelizmente o cansaço não deixou que fizéssemos um grande espetáculo. Mas fizemos um bom espetáculo, dentro das condições favoráveis e desfavoráveis.

Depois do espetáculo tivemos um bate-bato com os grupos locais e percebemos o quanto eles estão mobilizados em desenvolver a parte cultural de Igarassu. E foi bom conversar com eles, e também tem sido muito interessante ver o quanto as pessoas ficam curiosas e querem um dia visitar Mossoró. Acho que por onde o grupo passou Mossoró deixou fama de cidade quente, mas bonita e boa de se morar.

15/07/2010 - Uma Árdua Peleja




Maxson Ariton


Hoje foi um dia diferente dos demais dessa Rodovia Nordeste. O dia começou quando estávamos em Recife, mas já de partida para a próxima cidade: Igarassu. O horário marcado para a partida foi às dez horas da manhã. Acordei às sete horas e fui tomar café, depois aproveitei para dormir um pouco mais, afinal de contas o espetáculo de ontem foi O Pulo do Gato, deixando-me bastante exausto, além de ter dormido muito pouco a noite passada.

Saindo de Recife, cinquenta minutos depois estávamos em Igarassu e não consegui ver nada da cidade, pois enquanto passávamos por dentro dela, no carro ficamos Antônio Marcos, Madson e eu dormindo: o cansaço era grande. No almoço decidimos que faríamos A Peleja e não o Inspetor. Sendo assim o horário para estarmos no local da apresentação foi bem mais cedo do que seria para apresentar O Inspetor Geraldo. Ou seja, pouco descanso depois do almoço.

Partimos para o local da apresentação e agora sim, pude observar a cidade, que é histórica, muito bonita, aconchegante. É uma cidade que “dá filme”. O local da apresentação era um local aberto, perto de um galpão (onde são realizados alguns eventos da cidade). Optamos por fazer em local aberto, pela idéia do projeto, de fazer todas as apresentações em praça pública, onde quem vai passando, vai chegando, vai sentando, vai se encostando pra assistir. Só fazemos em local fechado em caso de uma segunda opção, quando algo nos impede de desfrutar do local aberto.

Pois bem. Começamos a rotina de montagem. Descarregamos o carro e começamos a montar palco, luz e som. A Peleja nos dá um pouco mais de trabalho por causa do palco, onde o cenário é maior; e o som, onde temos toda uma parte de instrumentos para testes de microfones. Com uma paisagem de mata fechada nos guardando, montamos tudo em uma hora e quarenta minutos. Na hora dos testes de som, infelizmente começou a chover e tivemos que dar uma parada. E o pior aconteceu: a chuva não parava, o tempo estava fechado. E agora, o que fazer? Desmontamos tudo e montamos novamente em tempo recorde dentro do galpão, onde geralmente se fazem as apresentações da cidade.

Depois da correria, finalmente tudo pronto com a parte técnica, cenário, som e luz. Só faltavam os atores. Tivemos pouco tempo para banho e maquiagem. Não tivemos tempo para alongamentos e aquecimentos, mas é assim mesmo: “cada dia é um dia”. Tem dia que estamos no céu, já outros ...

Antes do espetáculo era perceptível o cansaço do elenco. Eu olhava para todos e percebia os corpos, as vozes cansadas. O espetáculo da noite começou com as músicas de Zelito, e pra falar a verdade o que mais eu desejava naquela hora era uma cama para dormir. Nada contra as músicas de Zelito, que são muito boas. Era só o cansaço atacando.

Depois que Zelito tocou, começamos o espetáculo, e como estávamos em local fechado não usamos os microfones. O som foi montado somente pra Zelito, e finalmente percebi realmente o quanto eu estava cansado. Minha voz e meu corpo não me obedeciam. Foi uma peleja árdua e bastante cansativa fazer o espetáculo de ontem. Mas apesar dos pesares foi um bom espetáculo. Casa cheia, as pessoas se divertiram, se emocionaram com o espetáculo, isso compensa todo o cansaço.

Depois de tudo, para não perder a mania, tivemos que desmontar e guardar toda a estrutura, para finalmente termos o sono e descanso dos justos.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

14/07/2010 – O público salvou






Dionízio do Apodi

E assim chegamos ao final de nossa passagem por Recife, onde apresentamos o nosso repertório de três espetáculos. Hoje mantivemos a média de público de vinte pessoas. No entanto foi o público ideal para assistir ao espetáculo O Pulo do Gato, concebido para a sala, com poucas pessoas. Fizemos em cima do palco do Teatro Barreto Júnior, inclusive com o público também lá.
A novidade de hoje foi a luz, que tivemos um pouquinho de tempo para deixá-la mais a favor do ator. Ela vai crescer mais. Vejo a luz d´O Pulo do Gato muito simples, branca, com mudanças de intensidade apenas. É isso que vejo, e é isso que acredito que casa com a proposta do espetáculo. Mas temos muitas possibilidades para brincar com estas intensidades, basta usar a imaginação.
Quanto ao espetáculo, não gostei muito dos tempos que os atores perderam em vários momentos. Este espetáculo não tem o verbo, e por isso a riqueza de detalhes deve ser ainda mais explorada em nosso trabalho, o que não acontece devido aos equívocos quanto ao tempo. Também não gostei dos sons iniciais extraídos do ator, porque foram muito baixos, e cobertos pelo som do ar-condicionado. E ainda coloco como ponto negativo uma pequena falha na preparação física de alguns atores. Sei que alguns estão doentes, mas este espetáculo exige um corpo pronto o tempo inteiro. E acho que não é questão de doença, mas de ator fora de forma mesmo, o que deixa os movimentos previsíveis em vários momentos. Cachorro e gato precisam ter agilidade, e assim já fizeram, e é por isso que vamos correr atrás.
Mas a parte positiva foi o público, que estava aberto ao espetáculo, e curtiu bastante. Depois da apresentação ainda abrimos para um debate, uma conversa sobre os nossos processos, e foi muito participativo. Mesmo com um público pequeno nas apresentações destes três dias, sempre é muito bom voltar a Recife, e principalmente rever Willians Santana, grande parceiro.
Agora é esperar por Igarassu, já amanhã, para ver o que vai acontecer.

13/07/2010 – Apresentação de gente grande







Dionízio do Apodi

Nada como um dia atrás do outro, para que a experiência possa melhorar a nossa vida, e principalmente a forma como encaramos as coisas. Dias atrás tivemos grandes públicos por onde passamos, e hoje, em Recife, pela segunda noite, tivemos público pequeno (vinte pessoas) para assistir ao espetáculo A Peleja do Amor no Coração de Severino de Mossoró.
Tudo muda, e precisamos estar preparados e conscientes para estas mudanças, que acontecem não só com o público de teatro, como em todas as coisas da vida. Hoje tenho 32 anos, pouco mais de uma década vivendo de teatro, uma infância bem vivida em Apodi, cheio de sonhos, descobertas, e muita labuta em oito anos de grupo O Pessoal do Tarará. Esta experiência me tem ajudado a entender como a vida funciona, e por isso hoje não me desespero quando tenho público pequeno.
Não dá para dizer que sou indiferente quanto a quantidade de público. Claro que não! Não seria tão tolo. Claro que quero apresentar para muita gente, afinal de contas são muitos gastos com hotel, transporte, alimentação, atores, etc, etc. Saber deste esforço todo e ser indiferente a um número pequeno de pessoas é desrespeitar meu próprio suor.
Mas acontece que nem sempre as coisas são como queremos. Merecíamos um número maior de pessoas hoje, no Teatro Barreto Júnior. Eu que sempre falo no plural, acima de tudo valorizando o espírito de equipe, hoje quero falar sobre o meu lado particular. Foi maravilhoso para mim, fazer esta apresentação. Desde o início da apresentação que notei a pequena plateia difícil, não reagindo em nenhuma hipótese aos momentos que eu sabia que o público iria rir. Nem a cena do ´pé do fogão´ de Madson, arrancou risos da plateia.
No entanto, desde o início do espetáculo, quando percebi que a plateia estava difícil, talvez pelo público pequeno que estava espalhado pelas longas filas de cadeiras vazias do teatro, tive convicção que iria fazer uma apresentação de ´gente grande´, e assim o fiz.
Fiquei muito feliz com o resultado. Com a riqueza de detalhes que consegui imprimir em minha apresentação, que acredito que os mais atentos tenham percebido. Estou numa crescente. Depois das apresentações de Camaçari e Estância, onde não pude dar o que sei que posso dar, devido ao meu estado doentio, me recuperei em Aracaju, e hoje cresci ainda mais.
Adoro fazer o Severino, ou Cyrano. Não sei até quando irei fazê-lo, principalmente devido ao momento em que o grupo atravessará em breve, quando iremos reorganizar tudo, e até mudar focos e posicionamentos. O teatro está pedindo isso do grupo, mais uma vez, e não temos como fugir desta responsabilidade. Para fazer teatro e sempre seguir em busca da ´terra prometida´ precisamos nos ajustarmos sempre, refletirmos sobre o que estamos fazendo. Se não, ficamos para trás. A profissionalização no grupo está cada vez mais séria, mais para ontem que para amanhã. E assim vamos seguindo, sem, em hipótese alguma, perder a alegria da representação cênica, do real sentido do teatro. Como a experiência que vivi hoje.
Quero só registrar, na plateia, a presença dos amigos do Grudage, da cidade do Cabo, que vieram nos prestigiar. Conhecemos a galera num festival de teatro em Arcoverde, no ano passado. Além disso, Williams Santana, nosso anjo em Recife, sempre.

12/07/2010 – O microfone esteve onde não deveria






Dionízio do Apodi

Confesso que preferiria o projeto Rodovia Nordeste de Teatro, em Recife, na rua, em praça pública, como temos feito na maioria das vezes. Mas nosso anjo Willians Santana nos orientou para fazermos as apresentações dentro de um teatro, devido ao período de chuvas em Recife, e assim concordamos, e o próprio Willians arrumou um bom teatro para fazermos a temporada (Teatro Barreto Júnior, no bairro do PINA).
Uma hora antes da apresentação d´O Inspetor Geraldo caiu um toró, e de imediato tivemos consciência de que o melhor foi feito: fazer em um espaço fechado. A chuva só parou depois do espetáculo já iniciado. E por isso, tivemos um público pequeno. Pensei que fosse dar menos gente, mas ainda bem que tivemos apresentação.
O Inspetor Geraldo é um espetáculo para a rua e hoje fizemos no palco italiano. Nenhum problema quanto a isso. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. A verdade do ator de encontro à verdade do espectador é maior que as adaptações, que no fundo, são apenas adaptações.
Depois da abertura de Zelito Coringa, que abre com maestria todas as nossas programações, os atores começaram a encenar a peça. Não gostei do volume das vozes e da postura que os atores tomaram para falar. Eis que surge um problema: os atores estão fazendo a maioria das apresentações em praça pública, com microfones, o que dá um conforto para a voz. E hoje percebi que os atores estavam com postura de fazer com microfones, o que não era o caso. Muita coisa tive dificuldade de entender devido a esta postura.
Sempre respeitei muito, e respeito, a opinião do mestre Antunes Filho que diz que “ator não é para usar microfone, porque fica preguiçoso e não desenvolve a sua voz”. Há atores que realmente fazem isso, mas não vou deixar que isso aconteça aqui no grupo. Respeito Antunes, mas acredito que se o ator, conscientemente, desenvolver a sua sensibilidade, vai poder definir que postura tomar em cada ocasião e em cada ambiente.